Nada disso, obviamente, importava para Lula, que alimentou o sonho de substituir Bartolomeo por seu ex-ministro Guido Mantega, o pai da recessão de 2015-16. O nome acabou descartado, mas o presidente da República seguiu empenhado em remover o atual CEO. Após um empate em uma reunião extraordinária do Conselho de istração em meados de fevereiro, na última sexta-feira o colegiado se dobrou a Lula, restando apenas dois conselheiros – de um total de 13 – contrários à saída de Bartolomeo. O mandato do atual CEO termina em maio, com a possibilidade de recondução, negada pelos conselheiros; o executivo permanecerá no posto até dezembro apenas porque dois meses seriam um período muito curto para escolher devidamente seu substituto.

A mineradora afirma que recorrerá a uma empresa de recursos humanos “de padrão internacional” para selecionar o novo CEO, em um processo que “deverá considerar os atributos e perfil necessários para a posição frente a estratégia e desafios futuros da companhia”. Mas esta é uma procura que desde já se revela prejudicada. Afinal, muitos executivos qualificados para o posto certamente pensarão duas vezes antes de assumir a Vale, sabendo que sua cabeça estará a prêmio assim que tomar decisões de mercado que desagradem o presidente Lula. O sucessor de Bartolomeo, para sobreviver, precisará alinhar a Vale ao “pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro”, e não à estratégia que a empresa seguiria se estivesse totalmente livre da ingerência do Planalto.

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O investidor puniu a Vale no primeiro pregão após o anúncio da troca de CEO com uma queda de pouco mais de 3% – o recuo nos preços internacionais do minério de ferro também colaborou para o desempenho ruim. Não chegou a ser um tombo tão forte quanto os 10% impostos à Petrobras no último dia 8, depois que Lula venceu outra queda de braço e reduziu drasticamente o pagamento de dividendos aos acionistas (dos quais o maior é o próprio governo), mas é sinal de que investidores do mercado de capitais seguem vendo com maus olhos as interferências do Planalto tanto nas empresas estatais quanto nas companhias privadas em que o governo detém algum grau de participação.

A disputa em torno do comando da Vale é mais um caso em que, quando Lula vence, o Brasil perde. Aqui, a grande prejudicada é a liberdade empresarial, que o petista quer submeter a seu próprio “pensamento de desenvolvimento”, pouco importando se tal pensamento efetivamente faz sentido ou se contribuirá para o crescimento da companhia, fazendo-a gerar renda e emprego. Só o que importa para Lula é mostrar quem manda, quem é o “dono”, colocando tudo a serviço de si mesmo, do seu partido e do seu projeto de poder.