Enquanto a Renner tem a inovação como algo muito claro, a Riachuelo tem perfil mais conservador. “É uma empresa familiar, cujo fundador ainda é vivo, a amarração Guararapes ainda é muito forte, então quando se analisa as margens brutas, na qual a relação é direta com mercadoria vendida, as margens da Riachuelo vão ser um pouco menores. A empresa tem desafios de formar lideranças que vão traduzir o que é o novo varejo para dentro da operação.”
Entre os players internacionais do varejo de moda com forte atuação no Brasil, a Zara ingressou no mês ado com sua loja online no Brasil. A estreia teve um delay de pelo menos dois anos aos olhos do mercado. Por outro lado, os especialistas também ressaltam a complexidade tributária de se fazer o chamado omnichannel (integração das operações físicas e online) no país.
“É absurda, ao ponto de inviabilizar a margem de lucro dessa operação. As pessoas não entendem o quão é complicado no Brasil comprar pela internet e retirar na loja", observa Ana Paula Tozi.
Na prática, o problema todo está no reconhecimento de receita. A especialista explica o “imbróglio”: a mercadoria que não tem em loja precisa sair de um Centro de Distribuição e, consequentemente, de lá acontece o reconhecimento da receita, gerando Pis, Cofins e ICM. Mas se deixa para a pessoa retirar na loja, estará fazendo um reconhecimento de receita na loja. Porém, pelo fisco, se a venda foi feita no e-commerce tem que ser a saída do CD. E, ainda, se fizer reconhecimento de receita no CD e retirar na loja e quiser trocar, pela lei brasileira tem que devolver para o mesmo CNPJ de emissão, o que inviabilizaria a velocidade e o óbvio para o consumidor, que só quer fazer uma simples troca.
“É um mundo muito bizarro que a gente vive quando olha para a legislação tributária arcaica no nosso país e fala em inovação, em omnichannel e jornada digital. Quando isso se apresenta a uma operação estrangeira como a Zara, eles querem fazer absolutamente tudo certinho, porque é assim que se faz no resto do mundo. Só que no resto do mundo não se tem a estupidez tributária que se tem no Brasil. Por isso a Zara demorou tanto para estruturar a operação de forma que todo o compliance estivesse alinhado ao máximo possível.”
Há poucos meses, a Guararapes anunciou que pretende transformar seu braço financeiro, a Midway em um banco, para atender os clientes por meio de uma ampla plataforma digital. Este ano ela registrou receita de R$ 571 milhões, uma alta de 25,3%. A receita de empréstimo pessoal e saque fácil apresentou crescimento de 77,6%, para R$ 189,3 milhões, e a receita de comissões sobre cartão bandeira aumentou de 33,3%, para R$ 50,6 milhões. A Guararapes informou ao Valor Econômicoque os índices refletem “a consistente retomada dos volumes de empréstimo pessoal e dos cartões co-branded”.
“A Midway já tem uma boa receita. Facilitar o crédito e ter tudo isso verticalizado é muito importante”, avalia Rebetez. Logo a Midway poderá se lançar também na área de meios de pagamento, o que também pode beneficiar o ecossistema da Riachuelo, que pode crescer não só olhando o público final, mas as marcas e demais empresas que usam a rede como vitrine de seus produtos.
“O fato é que se falarmos de uma próxima revolução no Brasil, esta será nos canais de crédito, sem a menor dúvida. Esse modelo tradicional, do cartão Marisa, cartão Riachuelo, cartão Renner, vai desaparecer. As empresas arão a trabalhar com comportamento de compra do consumidor e comportamento de pagamento", observa Ana Paula Tozi.