No mundo, há pouca margem para ampliação dos gastos públicos. “A margem de manobra dos governos é pequena”, diz o especialista da Valor Investimentos. Um dos motivos para isso é a elevada inflação nas principais economias mundiais. 6w6647

Em outubro, a inflação anual atingiu 10,7% nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A alta foi impulsionada pelo preço dos alimentos, que aumentaram 16,1%, a maior elevação desde maio de 1974.

Com inflação mundial alta, juros sobem e crescimento cai 192m2v

Esse cenário de maior inflação mundial está obrigando os países a adotarem uma política monetária mais restritiva, com juros mais elevados, que por sua vez reduz as expectativas de crescimento da economia mundial. Em outubro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetava uma expansão de 2,7% para o PIB global em 2023.

A preocupação é de que, neste cenário mais conturbado, o Federal Reserve (o BC norte-americano) não inicie o corte dos juros em 2023. Dias aponta que, apesar de o Brasil estar relativamente preparado para este cenário, o Comitê de Política Monetária (Copom) não conseguiria reduzir muito a taxa Selic, devido à necessidade de se manter um diferencial entre os juros brasileiro e americano.

O analista-chefe da Toro aponta que há um pouco de cautela em relação aos Estados Unidos, apesar de a inflação estar cedendo por lá. Nos 12 meses encerrados em novembro, os preços ao consumidor aumentaram 7,1%, a menor alta nesse intervalo de tempo desde dezembro de 2021, segundo o US Bureau of Labor Statistics.

A expectativa é de uma recessão menos severa para a economia americana. Para a Europa, o cenário é diferente. Além da alta nos preços, a região convive com uma crise energética, que complica mais o cenário. A inflação acumulada em 12 meses estava em 11,5% em outubro e as perspectivas de crescimento econômico para 2023 são de apenas 0,5% na área do euro, segundo o FMI.

Um complicador adicional, segundo Galvão, da FAC-SP, é a mudança no paradigma dos negócios, devido a questões geopolíticas. A Covid-19 e a guerra na Ucrânia mexeram com as cadeias globais de produção.

O professor diz que esse cenário de custos de produção e dinheiro mais caros vai demorar para ser corrigido. “Ninguém quer ficar dependendo de fornecedores ou de blocos econômicos específicos”, diz o professor.

Um fator que pode contrabalançar, segundo Carvalho, da Toro, é a flexibilização da rigorosa política de combate à Covid-19 na China, que prevê testagens em massa e lockdowns, e a adoção de políticas econômicas mais expansionistas, que resultem em um crescimento maior. “O afrouxamento das restrições na China pode beneficiar commodities como minério de ferro, petróleo, soja, carne, café e suco de laranja”, cita.

Para a XP Investimentos, do ponto de vista global o Brasil continuará sendo um destaque. “Está longe das tensões geopolíticas, se beneficia dos altos preços das commodities e é uma das economias ‘mais verdes’ do mundo”, diz a corretora, em relatório.

Como ficam as commodities em 2023 4r204q

Segundo o Bradesco, a trajetória de queda das commodities perdeu força após recuar cerca de 17% entre meados de junho e meados de julho. De lá para cá, o CRB (indicador que mede o preço de uma cesta de commodities) permaneceu praticamente estável, influenciado por:

Economistas do banco apontam que a oferta de commodities segue restrita, com limitações na safra de grãos, produção de petróleo e extração mineral, mantendo pressão altista nos preços.

“No entanto, e apesar do movimento recente e das restrições de oferta, a tendência segue sendo de preços menores, em linha com a desaceleração global”, escrevem os analistas em relatório.

As maiores pressões devem vir dos grãos, nos quais o Brasil se destaca com a soja e o milho. “Os preços não devem se retrair e o país deve sofrer menos com a desaceleração das commodities”, diz o analista da hEDGE point.

O Bradesco aponta que, no mercado de grãos, a seca e a guerra na Ucrânia limitaram a expansão da produção no Hemisfério Norte e houve quebra na produção de soja, milho e trigo. “No Hemisfério Sul, a safra está em plantio e desenvolvimento, com riscos climáticos, por ora, concentrados na Argentina", diz análise do banco.

No conjunto, o cenário para as commodities tem implicações ambíguas para a economia brasileira. “Projetamos menor inflação doméstica, menor superávit comercial e perda de arrecadação”, destacam os economistas do banco.